Exchange do Bem e a ideia de mudar o mundo
O Cola aí sempre busca histórias interessantes e inspiradoras, e essa é uma delas. Pessoas que pensam no próximo e em mundo melhor são exemplos a serem seguidos. E esse é o caso do empresário Eduardo Mariano, de 26 anos. Natural de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, e formado pela UFRGS, deixou uma carreira promissora em uma multinacional em busca de um propósito maior pelo mundo.
Depois de um intercâmbio de dez meses na França, ele decidiu fazer um trabalho voluntário durante 34 dias no Nepal. Ele cuidou de um orfanato, morou com crianças e deu aulas de inglês. Essa experiência e a leitura do livro “The Promise of a Pencil” de Adam Braun, que conta a história do autor que largou sua carreira para construir mais de 200 escolas ao redor do mundo, foram fundamentais para que sua vida tomasse outro rumo. E assim surgiu a Exchange do Bem.
Veja a entrevista Ping Pong que o Cola aí fez com ele:
O que é a Exchange do Bem?
A Exchange do Bem é uma agência de intercâmbio social que conecta voluntários com diversos projetos sociais em diferentes países e destina 10% do seu lucro para investimentos ligados à educação no Brasil. Apoiamos as mais variadas causas, tendo como foco as áreas de educação e de proteção à infância.
Quantas pessoas têm na equipe e quantos voluntários?
Estamos em fase pré-operacional, então por enquanto sou eu, e meu sócio, o Francisco, apenas. Nenhum voluntário, pois ainda não começamos as atividades.
O que os motivam?
Sou apaixonado por crianças, então cada sorriso e abraço me dá energia para continuar. E tem lugares muito tristes no mundo, a possibilidade de tornar o mundo melhor me fascina. Sei que a Exchange do Bem jamais resolverá todos os problemas, mas podemos resolver os problemas de algumas pessoas, assim já estaremos fazendo a nossa parte.
Como que são financiadas as viagens?
As minhas eu financio com capital próprio, sempre gostei de investimentos e também vendi o carro para começar a empresa.
Acreditam que faltam iniciativas deste tipo?
Os brasileiros não têm hábitos de voluntariar, então não é falta de empresa, e sim falta de pessoas que tenham essa vontade. Nós somos muito mais de doação, mas na hora de colocar a mão na massa sobram poucos, então primeiro precisamos criar essa cultura do voluntariado.
Quais os lugares já passaram? Por que África?
Já estive no Nepal, África do Sul, Uganda, Quênia e atualmente estou em Gana. A África é o continente onde estão concentrados os países mais pobres do mundo. É necessária muita ajuda humanitária para tirar alguns países da miséria, então por isso escolhemos a África nessa viagem.
E qual o próximo destino?
Peru, Costa Rica, Guatemala e Haiti, provavelmente início de outubro se tudo der certo. O objetivo da viagem é sempre o mesmo: conhecer os projetos sociais para ver o impacto social causado e também se é seguro para o voluntário.
O que você aprende nesse tipo de trabalho?
Aprende que teus problemas são muito pequenos se comparados ao que o mundo está sofrendo. Você sai muito agradecido depois de um intercâmbio social e também acaba descobrindo mais sobre si mesmo. O meu intercâmbio mudou totalmente minha vida. Sempre quis ser CFO/CEO de uma multinacional, mas depois percebi que minha vida precisava de um propósito maior.
Tem muito perrengue?
Tem bastante sim, eu gosto de viver como um local, então pego ônibus com os locais e gosto de experimentar tudo de diferente, mas nem sempre meu estômago é tão aventureiro quanto eu, e às vezes nesses ônibus de local não tem banheiro, então é cada história! Também usar banheiros públicos desses países pode ser um perrengue também, sempre buraco no chão, sem papel, e tu enche um balde de água. Também tomei vários banhos de balde, sempre com água gelada, mesmo que a temperatura estivesse 8 graus como segunda em Nairobihehe. Mas para ser sincero, eu não vejo mais isso como perrengue, e sim que a água quentinha que me espera no Brasil que é luxo. Também num hospital do Quênia tinha 10 grávidas e uma enfermeira. Cheguei lá com nosso coordenador local, e tinha uma mulher morta (recém tinha morrido) com bebê dentro ainda, não aguentou, e do lado dela, uma mulher dando à luz em parto normal. A enfermeira não tinha como retirar o corpo sozinha e os responsáveis por isso estavam em outro local, então eu e o nosso coordenador tivemos que remover a mulher daquela maca e levar para outra sala.
Largou algo pra trás?
Larguei meu emprego. Era Analista Financeiro Sênior e estava indo muito bem nessa carreira, mas queria trabalhar com algum propósito e sempre sonhei em criar um negócio próprio, do zero. Também tive que vender carro e ficar longe da namorada.
Qual foi a experiência mais marcante até agora?
O momento mais emocionante foi no campo de refugiados. Sempre quis ver de perto essa realidade e imaginava que os campos serviam como um alívio para as pessoas fugindo da guerra nos seus países, mas o que vi na verdade foram milhares de pessoas passando fome, caminhando horas para conseguir um balde d'água e casas feitas só com uma lona. Anos atrás aprendi no Nepal a segurar o choro quando descobria a história por trás de cada criança de lá e naquele momento, no campo Nakivale, tentei ser tão forte quanto, mas não consegui e chorei. Espero que algum dia eu consiga ter a força deles e possa cada vez mais ser grato pelo o que tenho.
Vocês já têm alguma projeção para o futuro?
Queremos criar a Fundação do Bem para ter projetos próprios também voltado mais para educação e construção de escolas, mas primeiro queremos estabelecer bem a Exchange do Bem.
Qual é o perfil do voluntário?
O principal é ter boa vontade e se identificar com nossa missão.
Quem pode participar e como participar?
Qualquer pessoa maior de 18 anos que tenha inglês ou espanhol fluente (dependendo do país) e que tenha vontade e responsabilidade com o trabalho voluntário. Menores de 18 anos apenas acompanhados de algum responsável.
Quem não pode bancar viagens, mas tem vontade de ajudar, o que fazer?
Tem sites como o Fundme que ajuda a arrecadar recursos para esse tipo de viagem, nós vamos indicar para quem deseja fazer esse tipo de viagem. E também voluntariar vale a pena em qualquer lugar, então para quem não puder viajar, procure um projeto legal em sua cidade.
Para saber mais, procure a Exchange do Bem no Facebook.